Abstract
Os autores relatam 7 casos de queratoacantoma, tumor cutâneo confundido histologicamente com carcinoma epidermoide. Tecem comentários acerca da diversidade de opiniões a respeito de sua etiologia.
Introdução
Em 1936 Mac Caromac e Sacraf publicaram 10 casos de neoplastia cutânea com aspecto clínico sui-generis e que denominaram de molluscum sebaceum; este tumor que se caracteriza basicamente por crescimento rápido, chegando a um momento, no fim de dois meses aproximadamente, quando a lesão estaciona ou regride espontaneamente a partir desta fase, no fim de três a quatro meses.
Rook e Whimster em 1950 propõem o termo “queratoacantoma”. Para eles o tumor sugere a morfologia do carcinoma epidermóide mas é de natureza benigna.
Em uma série de casos estudados por Musso e Gordon, estes autores chamam a atenção especialmente para o fato de regressão espontânea destas lesões.
Beare em 1953 esclarece que a frequência destes tumores é maior do que se acreditava até então e comenta que muitos casos rotulados de carcinoma epidermoide são em realidade queratoacantomas e juntamente com a escola inglesa sugere o termo molluscum pseudo-carcinomatosum, termo este também utilizado pelos alemães (Hamperl e Kalkoff).
McNulty e Sommers consideram o queratoacantoma uma forma de hiperplasia pseudo-epiteliomatosa e cita Goucerot que havia cunhado o termo verrucoma para este tipo de lesão.
O conhecimento a respeito deste tumor foi acrescido por numerosos trabalhos e publicações incidindo sempre no seu aspecto benigno clinicamente e semelhança histológica com o carcinoma epidermoide grau (Bincker, Cady e Catlin; Levy et alia; Ghadially; Lapierre).
Gocek cita um caso de queratoacantoma ocorrendo em paciente com xeroderma pigmentoso.
Rendazzo descreve um caso associado a lupus Vulgaris, tratado com izoniozida.
Os tratados de Lever, Montgomery e Consiglio se referem amplamente a este tumor.
A lesão inicia-se com uma pápula, um comedão ou bolha crescendo rapidamente no decurso de 4 a 8 semanas, transformando-se em um nódulo esférico com uma cratera central ocupada por um tampão queratótico.
A pele em torno é lisa e brilhante, as vezes eritemosa (Fig. 1). A involução se completa no fim de 4 a 6 meses.
Fig 1 – Queratoacantoma localizado no dorso do nariz, notando-se um nódulo com aspecto central crateriforme.
Pode ocorrer em qualquer ponto da pele porém se localiza mais frequentemente na face, dedos, braços e ânus.
Clinicamente vários dados ou aspectos na evolução do queratoacantoma o diferenciam do carcinoma epidermóide. No quadro da página 82 procuramos esquematizar os vários pontos que diferenciam um tumor do outro.
Queratoacantoma | Carcinoma Epidermóide |
Crescimento rápido | Crescimento mais lento |
Não há linfoadenopatia | Linfoadenopatia pode ocorrer |
Aspecto crateriforme | Não há cratera |
Regressão espontânea | Não há egressão |
Pele normal em torno da lesão | Pele com sinais de pré-câncer em torno da lesão. |
Histologicamente, em cortes passando pela parte central da lesão evidencia-se o tampão córneo ocupando o local da cratera. Quanto mais antigo o tumor mais intensos os fenômenos da queratização. Papilomatose, hiperplasia da epiderme ocorrem penetrando irregularmente no tampão córneo. Sinais de hiperceratose e de paraceratose são constantes. Há tendência à formação de pérolas córneas.
Infiltrado inflamatório e frequente, principalmente de células redondas nos limites dermo-epidérmicos. No derma nota-se edema, congestão vascular e infiltração inflamatória inespecífica (Fig. 4). Figuras anormais de mitose podem ser encontradas.
Fig. 4 – Detalhe da lesão anterior. Acantose e hiperceratose, infiltrado inflamatório no derma.
O aspecto histológico é praticamente idêntico ao carcinoma epidermoide grau I.
Segundo Beare, se bem que a lesão regride naturalmente, o tratamento aconselhável é cirúrgico.
Materiais e métodos
De 1958 até 1970, na Clínica Ivo Pitanguy, foram operados e examinados histologicamente 972 casos de tumores da pele, neste grupo existiam 6 queratoacantomas. O paciente mais jovem contava com 43 anos e o mais idoso com 70 anos.
Seis pacientes eram de sexo masculino e somente uma, do sexo feminino.
Localização | Nº de casos |
Nariz | 2 |
Perna | 1 |
Região Temporal | 1 |
Mão | 1 |
Mento | 1 |
Total | 6 |
O período de sintomas antes de procurar a clínica variou de 2 a 5 meses.
O aspecto clínico reproduziu integramente as descrições, já clássicas, desde Mac Cormack e Scarff.
Entre os casos por nós estudados merece referência um deles: A.T. fora diagnosticado anteriormente noutra clínica como carcinoma epidermoide mostrando como ainda permanecem, pelo menos histologicamente, problemas em se distinguir o carcinoma epidermoide do queratoacantoma; um ano após houve recidiva, a paciente foi reoperada e histologicamente tratava-se de queratoacantoma. (Fig. 2)
Fig. 2 – Lesão recidivante diagnosticada anteriormente como carcinoma epidermóide.
Todos os nossos casos foram tratados cirurgicamente. Após anestesia local, foi feito a excisão com bisturi, a pele foi suturada.
Em algumas localizações, na face, em particular no nariz, tratando-se de lesões volumosas e profundas, foi necessário rotação de retalhos.
Nenhum outro tratamento foi utilizado nestes casos.
O caso mais antigo, operado em 1958, continua bem, sem apresentar problemas.
Fig. 3 – Bordo da lesão com epiderme à esquerda, cordões de células epiteliais exibindo ceratinazação.
Fig. 5 – Hiperceratose e paraceratose.
Fig. 6 – Diferenciação celular nítida com ceratinização individual na camada média. Hiperceratose.
Bibliografia
Beare, J. M. – Brit. J. of Surg. 41: 167 1953
Bincker, S. C., Cady, B. e Catlin, D. – Am. J. of surgery, 116 : 506. 1954
Consiglio, V. – Chirurgia Riparatrice dei tumori cutanei, pág, 121 Edit. Minerva Médica. 1968
De Morgas, J. M., Montgomery, H. e Mc Donald, J. R. A.M.A. Arch, Dermatol., 77: 390. 1958
Gocek, A. – Przegl. Derm. 54: 475. 1967
Gougerot – citado por McNulty e Sommers
Ghandially, F. N. – Câncer, 14: 801. 1961
Hamperl, H. Kalkoff, K. W. – Hautarzt. S: 440. 1954
Lapierre, S. – Hautartz, 6: 38, 1955
Lever, W. F. – Histologia de La piel – Editorial Científico-Médico, pág. 553 1964
Mae Cormae, M. e Scarff, R. W. – Brit. J. Dermat. 18 48 : 624, 1936
Musso, L. e Gordon, H. – Proc. Royal soc. Of med. 43: 838, 1950
Mcnulty, Jr e Sommers, S. C. – Surg. Gyn. and Obst. 104: 663. 1957
Rendazzo, S. D. D. – G. Italiano Derm. 107 : 1195. 1966
Rook, A. J. e Whimster I. W. – Arch. belg. Dermat. Et sypho, 6 : 137, 1950
Thomson, S. – Am. Roy Coll. Surgeons England, 22 : 382, 1958
Agradecemos a colaboração fotográfica de W. M. Barroso.